Um punhado de geniais "contos musicais" de Machado de Assis revelam a história real das músicas brasileiras na segunda metade do século 19.

As polcas do Pestana, maravilhoso personagem do conto "Um Homem Célebre", entre outros, e como sugere o importante artigo de José Miguel Wisnik, nos ensinam muito mais sobre a natureza da música brasileira do que as escolásticas histórias da música que circularam entre os séculos 19 e início do século 20, devotadas ao cânone da música europeia culta, recalcando justamente a maior novidade musical daquele período histórico.

A moldura teórica também conta com o importante trabalho do musicólogo inglês Derek B. Scott.

Ele afirma que "não nos damos conta de que não foi no século 20, mas no século 19 que um novo tipo de música surgiu: a música popular, ao lado da música folclórica e da de concerto". Scott realoca a revolução da música popular no século 19, proclamando que essa revolução, em grande parte estilística, foi impulsionada pela "incorporação da música em um sistema de empreendimento capitalista".

A partir dessa revolução, novos "mundos da arte foram criados", o que significava, entre outras coisas, que a música popular poderia estabelecer seu próprio cânone como um "terceiro tipo de música". Scott clama, em seu artigo, por uma pesquisa sistemática a respeito desse fenômeno: incentiva os musicólogos a estudá-lo "em termos de uma revolução estilística, demonstrando como e por que desafiava as práticas existente".

É este o objetivo do curso, em três aulas.

Aula 1: Como os contos musicais de Machado de Assis colocam sob novo ângulo as músicas brasileiras da segunda metade do século 19.

Aula 2: Paulo Castagna, Derek B. Scott e os modos de se contar a história das músicas brasileiras no século 19. Como, apesar de recalcada pelas histórias oficiais, as músicas e danças populares se impuseram, à revelia do país oficial.

Aula 3: As reações diferentes dos compositores "eruditos" do período às músicas populares de talentos como Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth.