O Modernismo Brasileiro vem sendo revisitado de maneira intensa na última década. Várias têm sido as trilhas desse “repensar”, que tem sido muito atravessado pelos desejos sociais de compreender melhor não apenas o passado mas sobretudo a escrita que sobre o passado foi realizada, estabelecendo uma História que, em todos os campos vem sendo redimensionada.
Assim, a hegemonia paulista vem sendo questionada e uma série de pesquisas busca retraçar “os modernismos” que convergiram para a famosa semana de fevereiro de 1922. Também no que diz respeito às individualidades, há anseios traduzidos em pesquisas, livros e produções artísticas que buscam questionar a presença/ausência de um número maior de mulheres, de intelectuais negros, de indígenas.
Essas “vozes” começam a ser buscadas e sua “escuta” ainda está em seus inícios mais existe e precisa ser considerada para o projeto de um Clube de Leitura que vai enveredar pela História da Semana de Arte Moderna de 1922. Neste mês com a leitura do livro “Tarsila”, de Maria Adelaide Amaral. Rio de Janeiro: Globo Livros, 2011.
Sinopse Ela nunca perdeu a disposição para ser feliz, mesmo frente às tragédias pessoais que a vida lhe impôs (como a perda da neta e da única filha). Tarsila do Amaral, grande artista do movimento modernista brasileiro, ressurge em todo o seu esplendor e sofisticação em “Tarsila”, de Maria Adelaide Amaral.
O dinamismo do texto de Maria Adelaide Amaral transporta o leitor ao ano de 1922, com a chegada da artista ao Brasil após temporada em Paris, e finaliza com a sua velhice, 50 anos depois. Retrata sua vida junto a de outros três importantes expoentes do modernismo: Mário de Andrade, Anita Malfatti e Oswald de Andrade, privilegiando o “ser humano” ao invés do “mito”. Unidos por uma amizade que perdurou até o início dos anos 30, eles viveram frustrações, ciúmes e vaidades. Cenas e diálogos contidos no livro ocorreram de fato, extraídos da correspondência trocada entre eles.
Momentos cruciais da vida de Tarsila estão presentes na obra, como a conturbada paixão por Oswald de Andrade, as confidências junto a Mário de Andrade, as graves dificuldades financeiras trazidas pela crise de 29, a prisão em 1932, o estremecimento da relação com Anita Malfatti. Mas, sobretudo, a autora dá a conhecer a lucidez e dignidade que a transformaram em uma mulher à frente de seu tempo, encontrando na arte o impulso para a vida. A intimidade das quatro personagens é embalada por momentos históricos, como a quebra da bolsa de Nova Iorque e o advento do comunismo, e culturais, como os movimentos antropofágico e pau-brasil. Maria Adelaide Amaral traz à luz a importância e a atualidade das obras desses artistas, que se debatiam entre a influência européia e a busca de uma identidade artístico-cultural genuinamente brasileira.
Susana Ventura é Doutora em Letras pela USP, trabalha para o SESC SP desde 2007 em projetos de literatura, fez curadorias para o Museu da Língua Portuguesa, Casa das Rosas, entre outros. Conduziu reuniões dos clubes de Leitura do SESC Carmo, SESC Vila Mariana, SESC Consolação entre 2009 e 2019. Ministrou o curso “Lendo Mia Couto” no SESC Santo Amaro em 2020. Tem 40 livros publicados na área de literatura e teve seu trabalho reconhecido pelos Prêmios Jabuti e Glória Pondé da Biblioteca Nacional.