Kalunga Grande – Rios de Sangue, Corpos Negros Jogados ao Mar surge da necessidade latente de investigar o caminho histórico entre a senzala e a favela, e os respectivos impactos das violências, violações e meios de “re-existência” na vida do povo negro e afroperiférico. Entre as diversas aplicações que se pode usar da palavra kalunga, o processo de pesquisa da Associação Cultural Cafundó optou por ter como norte poético a Kalunga Grande como um lugar de travessia. Como o imenso mar, que, em um passado não muito distante, foi rota comercial escravista. Lugar no qual, durante a travessia do Atlântico, que tornou-se negro, sangravam sonhos, rompiam-se famílias. O mar dos Kalungas, do povo encantado que vive nos braços de Yemanjá.

Vemos nos rios de sangue as águas represadas nas margens da cidade. Essas margens que nos marginalizam e fazem com que os corpos negros sigam amontoados, ora nos vagões, ora nos camburões. A cidade, que vai terminando de terminal em terminal, vai exercendo a função estratégica da manutenção do não pertencimento da herança africana em diáspora como parte fundamental na construção deste país nomeado Brasil.

Então, aqui estamos! Ouvindo, repetindo e ecoando a nossa existência em uma perspectiva afrobrasileira. Em uma perspectiva de mundo que possa ressignificar os meios de criação, que retome o tempo entre o ouvir e o falar, entre o cozinhar e o comer, entre o eu e o outro e o entendimento de como nos tornamos um nós.

A história perde-se no tempo e espaço. Recortes, fragmentos, uns tantos juntados aqui e acolá que formam povos, países e nações. Cantos e canções que contam um tanto sobre a gente, que trouxe de África o dom de se reinventar e a missão de sobreviver. A bordo do Tempo, a obra navega da Senzala à Favela, mostrando um passado que se faz presente e convocando seu povo de luta à cura.

Ficha Técnica:
Direção: Janaína Soares. Direção musical: Alan Zas. Dramaturgia: Paulo Henrique Sant’ Anna. Figurino: Alene Alves. Costureira: Gabriela Bazilio. Preparação corporal: Liliane Rodrigues e Ingryd de Oliveira. Assessoria cenográfica: Caio Marinho. Operador de som: Hudson Oliveira. Fotografia: Alessa Melo, André Bueno, Fernando Solidade, Gisele Ramos, Thamara Lage, André Bueno, Caroline Avelino. Produção geral: Janaína Soares. Produção executiva: Ariadne Caroline. Produção de comunicação visual: Ingryd de Oliveira. Coordenação do núcleo de estudos teóricos: Fernando Oliveira. Captação de vídeo (roda de conversa): Coletivo Sasso. Edição de vídeos: Bruno Cardoso. Design gráfico: Bruno Cardoso. Revisão de texto e crítica: Nayla Aauri