UMA CARREIRA CONTANDO HISTÓRIAS
Quando me formei em jornalismo eu não esperava fazer documentários voltados à arte, ao perfil de artistas ou músicos como acabou acontecendo. Na época da formação eu estava cobrindo a guerra na Nicarágua (1979–1990), então meu foco era outro. E só comecei a pensar em documentários mais de 15 anos depois, já trabalhando na TV Cultura.
Sempre fui ligado em artes, isso sempre me despertou interesse. Com o Metrópolis a coisa muda, passei a viver isso todos os dias, este contato maior com a literatura, com as artes plásticas. E eu fiquei lá no Metrópolis por muitos anos e paralelamente a direção do programa criei outros como o Manos e Minas, o primeiro programa sobre a periferia na TV aberta, o Entrelinhas, sobre literatura, e vários filhotes que surgiram, entre eles um documentários sobre o Theatro Municipal de São Paulo, Lygia Fagundes Telles, Inezita Barroso, a Pinacoteca do Estado de São Paulo.

"O Metrópolis me deu uma bagagem muito legal para olhar diversos pontos que não aqueles que eu estava interessado originalmente."

AS HISTÓRIAS DE UMA REVOLUÇÃO
Assim que terminei um documentário sobre a Inezita Barroso eu já tinha como objetivo fazer algo sobre a Semana de 22. Eu sabia que a comemoração do centenário chegaria em alguns anos, mas originalmente pensava em dramaturgia. É por isso que 22 em XXI tem um pouco de drama.
Desde o início nós sabíamos que iria ter dramatização, mas a forma como seria feita não estava muito clara. E nas conversas com o SescTV nós deixamos essas ideias como os pilares do documentário: vários pontos de vista e um momento de fantasia, quando você para de ouvir o especialista e vê o personagem, presta atenção na fazenda, e no ambiente em que eles viviam.
Documentário 22 em XXI estreia em março, no SescTVSe criássemos um projeto apenas de ficção não ficaríamos tão presos aos textos, porque os diálogos da dramatização são transcrições de textos publicados. O que o Mário fala está escrito, o que o Oswald fala está escrito, isso vale para todos os personagens, Tarsila, Anitta…
Para criar uma ficção você precisa ter um embasamento histórico muito forte, já que estamos falando de personagens emblemáticos, então nosso primeiro esforço foi nesse sentido, esforço meu e do Flávio Torres, o roteirista: pesquisar nos livros, e acabamos com uma biblioteca com os livros mais incríveis sobre 1922.
Durante a pesquisa você descobre, por exemplo, que existe uma bela gravação da Tarsila no MIS?-?Museu da Imagem e do Som, e todo mundo usa como fonte de consulta, mas achei legal que fizesse parte do nosso cardápio, e isso foi fascinante."Você tem uma discussão sobre 'A Negra', da Tarsila, ai um fala, outro fala, mais outro fala. Aí vem a Tarsila e explica a sua visão sobre o quadro que ela própria criou."

OLHAR ATUAL PARA UM PASSADO MODERNO
O documentário nos surpreendeu em várias situações. Sabíamos dos pontos de vista diversos, como é nossa sociedade hoje, e das correntes que existem, das interpretações, mas nós precisávamos fazer as pessoas sentirem o clima do que foi esse momento. E não será no Theatro Municipal, que é o óbvio. Nós decidimos abrir com uma fazenda de café, que é a origem econômica de todo esse povo, para fazerem todas as loucuras que fizeram.
Todo documentário possibilita este encontro com a realidade e o fascinante nisto é quando você descobre talentos que ficaram esquecidos?-?como a própria Semana de 22 ficou esquecida durante décadas?-?e você descobre o quanto eles são atuais. Existem personagens contemporâneos que gerariam documentários fantásticos.
Todos os movimentos importantes, quando os especialistas vão falar, eles falam ou com melancolia ou pontuando as correções que gostariam que tivessem ocorrido. E as correções fazem parte da história, são fatos. Esta melancolia, de pensar o passado como se fosse algo sempre muito melhor, mais interessante, faz parte do ser humano.
Entendo que a Semana de 22 é apenas um símbolo, porque o modernismo não é um símbolo, ele está na nossa sociedade para o bem e para o mal, está na presente na nossa arquitetura, enfim, nós respiramos o modernismo.

"O objetivo é atrair o maior número de pessoas para uma história fascinante com aventura, traição e arte. Uma história onde também se discute o racismo, o protagonismo feminino e percebemos que há por trás de tudo discutido lá um projeto político."

PERSONAGENS
O Mário de Andrade, que eu já gostava muito, foi uma grande descoberta. Ele tem livros e textos tão fascinantes que talvez eu não tivesse prestado atenção se não fosse o objetivo de fazer um documentário, porque você lê o consagrado, o que é conhecido, mas se você mergulhar, mesmo em outros textos dele, achará personagens ricos, entre aqueles homens e mulheres de uma elite e ele está no limite com a questão sexual, a questão racial.

O Mário realmente pensa com um olhar muito crítico o processo todo, a ponto de anos depois fazer uma revisão deste método todo.

22 em XXI
Cem anos depois, o que ficou da Semana de Arte Moderna de 22? Esta é a pergunta central do documentário "22 em XXI", que também investiga os antecedentes e as consequências de um dos eventos culturais mais importantes da história da arte brasileira.

Buscando os vários ângulos dessas questões, o filme apresenta os depoimentos de Aracy Amaral, Caetano Veloso, Emicida, Jerá Guarani, José Miguel Wisnik, Fred Coelho, José Celso Martinez Corrêa, Maria Eugênia Boaventura, Ruy Castro, Regina Teixeira de Barros, Hélio Menezes, Maria Bonomi, Maria Adelaide Amaral, Antonio Risério, Pedro Duarte e Marcos Augusto Gonçalves.
A obra também é composta por dramatizações. Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e Mário de Andrade ganham vozes interpretadas por Erika Puga, Maria Manoella, Marcelo Diaz e Anderson Negreiro, respectivamente.

Onde assistir
O documentário 22 em XXI estreia no SescTV dia 22 de março, 21 horas.


O SescTV está disponível de forma aberta e gratuita via satélite em todo o Brasil e nas operadoras de TV por assinatura.

A programação também pode ser assistida, 24 horas por dia, através do site do SescTV


O documentário também disponível no site, sob demanda, a partir do dia 22 de março 


Na Plataforma sesc.digital, o documentário chega no dia 29 de março.