Vem aí o Refestália, ação do Sesc São Paulo que acontece de 17 a 20 de fevereiro e marca o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922. Em nove Unidades do Sesc na cidade de São Paulo – 24 de Maio, Belenzinho, Bom Retiro, Campo Limpo, Carmo, Consolação, Interlagos, Ipiranga e Itaquera –, o público poderá participar de ações que resultam da intersecção entre diferentes linguagens artísticas para celebrar e refletir sobre este marco na história do Brasil.
O Festival é uma das atrações do Diversos 22 – Projetos, Memórias, Conexões, que se estende ao longo de 2022 e propõe uma análise crítica do Centenário de Arte Moderna (1922) e do Bicentenário da Independência do Brasil (1822). Durante os quatro dias de Resfestália, haverá música, teatro, dança, circo, intervenções e muito mais, entre eles, show de Tom Zé, um encontro entre RAPadura XC e Rincon Sapiência, a apresentação de GOTA D’ÁGUA {PRETA} e a exibição do documentário Tropicália.
A partir da diversidade de linguagens, pontos de vista e origens de seus atores, o Refestália propõe uma reflexão sobre os fazeres artísticos e suas narrativas, ampliando olhares para as influências da semana e os apontamentos de quem segue criando e estabelecendo relações e conexões entre os diferentes tempos de ontem, hoje e amanhã.
Com programações em Unidades localizadas em diferentes regiões da cidade, a proposta estabelece diálogos entre centro – periferia – centro, fluxos que tensionam as noções de eixo e centralidade e extrapolam fronteiras geográficas, socioculturais e políticas, colocando a arte em deslocamento criativo e de fruição.
A ideia é que o público possa misturar percepções sobre moderno, tradicional e contemporâneo, com criadoras e criadores de diferentes gerações e regionalidades, que seguem propondo perguntas e em permanente diálogo criativo com seu tempo.
Conheça a seguir alguns destaques da programação!
No Sesc 24 de Maio, o músico Tom Zé realiza o show Bula Invasão na Bula da Fossa. Nesta apresentação inédita, ele estará acompanhado de sua banda com a seguinte formação: Daniel Maia, (guitarra;); Jarbas Mariz, (cavaquinho, viola de 12 cordas, percussão); Cristina Carneiro, (teclados); Felipe Alves, (baixo); Fábio Alves, (bateria). No repertório do show, canções que traçam um paralelo entre a contemporaneidade e a Semana de Arte Moderna ocorrida em 1922.
O Sesc Interlagos recebe o espetáculo GOTA D’ÁGUA {PRETA}, com direção de Jé Oliveira, uma adaptação de Gota d’Água, musical de Chico Buarque e Paulo Pontes. A obra ressalta as questões raciais embutidas na obra de 1975, que transfere a tragédia de Medeia para o subúrbio do Rio de Janeiro. Se o original discute as implicações sociopolíticas do regime militar brasileiro, então vigente, a releitura do diretor Jé Oliveira enegrece e atualiza a obra: traz um elenco majoritariamente negro, evidenciando o contexto social e racial dos personagens (pobres, moradores de um conjunto habitacional), além de salientar religiões de matriz africana e a musicalidade negra – com instrumentos de percussão africana e elementos do hip-hop.
A rapper Katu Mirim lança o seu primeiro álbum Revolta! no Sesc Bom Retiro. O disco traz uma nova roupagem tanto nas letras, como na forma de se portar e vestir-se. Trajada de uma personagem que cansou dos modelos opressivos do sistema, e das marcas que carrega, ela canta o empoderamento, acertos de conta e justiça.
O Festival traz ainda a leitura performática O Brasil é Bom, no Sesc Ipiranga, que reúne contos do escritor e dramaturgo André Sant’Anna e é dirigida por Georgette Fadel e Mawusi Tulani. O espetáculo é um mergulho na estupidez vigente no cenário político e social brasileiro, trazendo vozes que vão tomar conta do espaço cênico, como fantasmas da realidade. Que por vezes são cômicos e aterrorizantes. O Brasil é Bom?
RAPadura XC e Rincon Sapiência realizam um encontro musical inédito no Sesc Campo Limpo e apresentam uma leitura apurada da realidade e novas experimentações musicais. No repertório, músicas autorais como “Ponta de lança”, “De Onde Cê Vem” e “A Coisa Ta Preta”, de Rincon Sapiência, e “Norte Nordeste me Veste”, “É Doce Mas Não é Mole” e “Maracatu de Cá prá Lá”, de RAPadura Xique-Chico, entre outras canções interpretadas em dueto.
A artista transdisciplinar maranhense Tieta Macau apresenta, no Sesc Carmo, a performance Rezos para rasgar o mundo. Sentada em um banquinho, de pés descalços que amaciam o chão de areia com alguns escritos, Tieta (en)cruza o som pa|lavra, da escrita ao ponto cantado, enquanto aparição de cura|ataque e de inversão lexical. O que de passagem passa, no que não se vê, entre o som e o giro, se firma. Rezos que sopram do feitiço à cura… na fala gesto do que não se vê.
Na mesma Unidade tem outra artista também com uma performance cênica sobre os corpos e palavras das mulheres. Uma das criadoras da Tribo de Atuadores Ói Nois aqui Traveiz, do Rio Grande do Sul, Tania Farias apresenta Manifesto de uma mulher de teatro. Histórias reais de mulheres submetidas a violência são evocadas no texto e a motivação central do espetáculo. Uma referência da artista para a montagem da performance é Ofélia, presente no texto teatral Hamlet Machine, do dramaturgo e escritor alemão Heiner Muller, que vocifera contra a engrenagem de violência a que as mulheres são continuamente submetidas.
O Sesc Campo Limpo recebe o Circomuns, do Circo Teatro Palombar, onde circulam pessoas comuns, trabalhadores anônimos da cidade que cruzam suas histórias despercebidamente frente ao nosso olhar. Em uma dessas esquinas essas fagulhas de vida atravessam a sensibilidade de artistas de circo, que não se enquadram na dureza cotidiana e transformam a vida do bairro em uma explosão de criação e potência.
A cantora paulistana Ava Rocha se apresenta no Sesc Belenzinho e conta com participações de Iara Rennó e Saskia em show de celebração aos seus 10 anos de carreira e lançamento do single carnavalesco PAPAIS PANACAS, que abre os caminhos para seu novo disco, previsto para maio de 2022.
Um dos maiores movimentos artísticos do Brasil ganha vida no documentário Tropicália, com direção de Marcelo Machado, exibido no Sesc Itaquera. Numa época em que a liberdade de expressão perdia força, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Arnaldo Baptista, Rita Lee, Tom Zé, entre outros, misturaram desde velhas tradições populares a muitas das novidades artísticas ocorridas.
Z é uma criação em dança com direção e performance de Alejandro Ahmed (Grupo Cena 11/SC), com apresentação no Sesc Belenzinho. Uma obra músico-coreográfica desenvolvida na imbricação entre corpo, composição generativa e coreografia.
O músico Arrigo Barnabé remonta o repertório de Clara Crocodilo 40 anos depois. O lançamento do LP em 1980 foi um divisor de águas na música brasileira e marcou o surgimento do movimento Vanguarda Paulista. Dissonante e agressivamente rítmico, falava sobre personagens marginais da grande cidade. Transgredia costumes, provocava
a ditadura. A obra continua atual e neste show, no Sesc Belenzinho, Arrigo terá a companhia de músicos que fizeram parte da gravação original.
Com apresentação no Sesc Interlagos, o espetáculo de dança Sem Conservantes, com a Cia Giradança, trata-se de fragmentos da memória. A memória presente nas fotografias dos processos anteriores de Ângelo e Ana Catarina. Não são fotografias de registro de espetáculos. São fotografias tiradas dos vídeos dos trabalhos: “Somtir” (2003), “Outras Formas” (2004) e “Clandestino” (2006), fotos em posições especificas e escolhidas para se tornarem marcas da linguagem da dupla, essas fotografias geram os materiais a partir dos corpos que também possuem uma memória, e nesta mistura de “memórias”; geram-se os resultados coreográficos.
O Sesc Consolação e o Sesc Interlagos exibem o documentário Por Onde Anda Makunaíma?, do diretor Rodrigo Séllos. O audiovisual faz um resgate histórico e cultural daquele que é o personagem ficcional mais identificado com um certo jeito de ser brasileiro. A começar por Makunaima, mito de origem de etnias da tríplice fronteira Brasil-Venezuela-Guiana, registrado em livro pela primeira vez no início dos anos de 1910, pelo etnólogo alemão Koch-Grünberg. É ele quem faz a ponte entre o extremo norte da América do Sul com o Brasil não-indígena, por meio de Mário de Andrade, autor da rapsódia Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, de 1926.
A programação completa do Refestália você encontra em www.sescsp.org.br/refestalia.
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A ação “Diversos 22 – Projetos, Memórias, Conexões” acontece desde setembro de 2021 e durante todo o ano de 2022 integra a programação das Unidades do Sesc SP, com atividades artísticas e socioeducativas, programações on-line e presenciais, com o objetivo de estabelecer conexões temporais e refletir sobre esses dois importantes momentos históricos.
Acompanhe a programação completa em: www.sescsp.org.br/diversos22